quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

COMENDO DE MANSINHO PELAS BEIRADAS


Pernambuco tem sido pródigo na renovação dos seus quadros políticos após a superação do regime militar em 1984. São da geração “pós 64”, entre outros, o governador Eduardo Campos, os senadores Humberto Costa e Armando Monteiro Neto, os deputados Mendonça Filho, Raul Henry, João Paulo, Danilo Cabral e Bruno Araújo, o ministro Fernando Bezerra Coelho, o prefeito João da Costa e alguns deputados estaduais que daqui a dez ou quinze anos vão estar no topo da política estadual.
 
Entretanto, uma das mais surpreendentes revelações da política de Pernambuco nos últimos quatro anos foi o deputado Eduardo da Fonte, eleito anteontem à noite 2º vice-presidente da Câmara Federal. De simples assessor de Severino Cavalcanti, ele virou deputado federal em 2010 com mais de 100 mil votos, superando Roberto Magalhães e outros candidatos com mais quilometragem, e renovou o mandato em 2010 com mais de 330 mil votos, ficando abaixo apenas de Ana Arraes.
 
Isso por si só chamou atenção porque ele não descende de políticos nem tinha tradição política no Estado salvo o fato de ser ex-genro do ex-governador Carlos Wilson. É o mais independente dos 20 deputados federais da Frente Popular e o que menos incomoda o governador Eduardo Campos com pedidos de favores para os seus prefeitos. Por essa razão, ter sido eleito para a 2ª vice-presidência da Câmara Federal já é um indicativo concreto e incontrastável de que ele tem futuro na cena local.




      Discípulo e herdeiro político de Severino Cavalcanti - ex-presidente da Câmara que renunciou ao mandato em 2005 para não ser cassado por receber um "mensalinho" -, o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) julgará os colegas suspeitos de quebra de decoro nesta Legislatura. Dudu, como é chamado, foi, durante a passagem de Severino pela Câmara, seu mais fiel escudeiro, uma espécie de carregador de pasta do "Padrinho", como chamava o mentor político. Dudu foi eleito 2º vice-presidente da Câmara, na terça-feira, e terá a função de ser o corregedor da Casa.


No seu segundo mandato, e aos 38 anos, o deputado pernambucano ingressou no Congresso Nacional como secretário particular de Severino em 2005. Um ano depois, em 2006, após a renúncia do presidente, a criatura se virou contra o criador e derrotou o antigo chefe nas eleições para a Câmara. Os dois dividem a mesma base eleitoral, no agreste de Pernambuco. Dudu levou a melhor.
Cabe ao corregedor analisar e emitir parecer sobre denúncias envolvendo parlamentares. A Mesa Diretora da Câmara analisa e decide se envia a denúncia ao Conselho de Ética. Prefeito da pequena cidade de João Alfredo (PE), com pouco mais de 30 mil habitantes, Severino lembrou-se nesta quarta-feira do antigo funcionário:


- O Eduardo é um rapaz excelente. Aprendeu e pegou todas as lições que passei e, tenho certeza, será um grande corregedor da Câmara - disse Severino Cavalcanti, que já foi corregedor da Câmara e preservou colegas acusados de ferir o decoro parlamentar. 

Eduardo da Fonte chegou até Severino porque era amigo de um filho do ex-deputado, Severino Júnior, que morreu num acidente de carro em agosto de 2002. A derrota para Eduardo em 2006 não os separou. É o que asseguram os dois. Eleito prefeito em 2008, Severino apoiou Eduardo ano passado e garantiu boa votação para o discípulo, nos municípios que controla na região. 

- Não ficou nenhuma mágoa. Votei nele ano passado. Eu e toda nossa família. Tem um futuro brilhante pela frente e espero que faça o que não me permitiram fazer na Câmara - disse Severino.
Eduardo só se refere a Severino como "padrinho": 

- Temos boa relação. Venci aquela eleição mas a amizade continua - disse Eduardo.
Empresário em Pernambuco, Eduardo da Fonte obteve, em 2006, cerca de 110 mil votos para a Câmara. Teve um desempenho surpreendente ano passado e triplicou sua votação. Foi eleito com 330.520 votos. No estado, ficou atrás apenas de Ana Arraes (do PSB, com 380 mil votos), filha do ex-governador Miguel Arraes. Mas Eduardo ficou na frente de outros caciques da política pernambucana, como o veterano Inocêncio Oliveira (PR), o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB), o ex-governador Mendonça Filho (DEM), o ex-prefeito de Recife João Paulo (PT); ainda superou dois ex-líderes do PT na Câmara: Maurício Rands e Fernando Ferro. 

Entre as razões de seu sucesso nas urnas estão um bom volume de dinheiro e campanha casada com um pastor evangélico. Também obteve dividendos políticos como presidente da CPI das Tarifas de Energia Elétrica, que permitiu a redução de preços desse serviço em vários estados, incluindo Pernambuco.
- Esta foi a única CPI que, de fato, mexeu e beneficiou o bolso do brasileiro - contou, com orgulho, Eduardo da Fonte.
O novo corregedor da Câmara foi bastante cauteloso ao falar de sua nova função. Ao contrário de Edmar Moreira (PR-MG), que assumiu esse mesmo posto em 2009 e, um dia após sua eleição, disse que a fraternidade entre os colegas e o espírito de corpo impediam cassações, foi econômico na resposta: 

- A Corregedoria não pode ter amigos nem inimigos. Segue a Constituição - disse.
Em 2008, o parlamentar passou por um apuro que quase lhe custa a vida. Ele estava no pequeno avião em que viajava a banda Calypso. A aeronave caiu em Recife. Duas pessoas morreram. O avião se partiu ao meio e suas pernas ficaram para fora. 

- Sobrevivi por um milagre


Nenhum comentário:

Postar um comentário