Maior
bacia leiteira do Estado, com uma produção diária de 1,4 milhão de
litros, o Agreste Meridional é a região que mais sofre com o
prolongamento da maior seca dos últimos 50 anos. Responsável por 85% da
produção de leite no Estado de Pernambuco, Venturosa e mais seis
municípios da região entraram em colapso total. As vacas que mais
produzem leite, quando não abatidas pela seca, estão sendo exportadas
para Alagoas.
'Sempre
teve seca, mas não seca sem palma', reage o presidente do Sindicato dos
Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, ao se
referir à planta forrageira, imprescindível para quem cria gado em área
de estiagem por sua capacidade de suportar clima seco.
A
palma tem sido dizimada no Estado pela praga cochonilha carmim - um
inseto que suga a seiva e a destrói em poucos meses. 'Só produz leite na
região quem tem palma', resume ele. Sem o alimento para dar ao gado, os
criadores de porte médio de Pernambuco têm abandonado suas propriedades
para levar as reses para Alagoas.
Ali,
em torno do município de Batalha, eles arrendam terra com água e
plantação de palma, sem praga, na luta pela sobrevivência dos animais. O
retorno só ocorrerá com a chegada das chuvas, cuja previsão é a partir
de dezembro. Mas o serviço de meteorologia do Estado indica que a
invernada só está garantida mesmo em março.
Outros
criadores do Estado não tiveram a chance de engrossar o êxodo. Ou viram
suas reses morrer ou venderam o rebanho por preços indignos. De tão
magros, os animais não servem nem para o corte. De acordo com a Agência
de Defesa e Fiscalização Agropecuária (Adagro), a redução na produção do
leite no agreste pernambucano, que engloba cerca de 10 municípios, é de
40%.
Foram
produzidos 1,3 milhão de litros por dia neste ano contra 2,2 milhões
litros por dia no ano passado. A relação entre produção de leite e
emprego é de um emprego direto para cada 50 litros de leite produzidos,
enfatiza o sindicalista. A queda da produção em 900 mil litros/dia
significa 18 mil pessoas desempregadas.
'A
situação é muito triste no campo. É de doer ver o sofrimento dos
animais e do homem', afirma Stênio Galvão, diretor-presidente da Bom
Leite, uma das 20 empresas de laticínios do agreste, que também abriga
300 queijarias informais.
Localizada
em São Bento do Una, com 190 funcionários, a Bom Leite coletou, ano
passado, 110 mil litros de leite por dia dos produtores locais, que
também exportavam para as capitais de Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio
Grande do Norte. Neste ano, o laticínio só conseguiu comprar 60 mil
litros/dia.
Para
compensar a falta do produto na região, a empresa está substituindo o
leite in natura por leite em pó, adquirido no Sul e Sudeste, para fazer
iogurtes, manteiga e queijos. 'Os empresários têm essa opção, podem
comprar fora, mas o criador está sem saída', avaliou Galvão.
O
cenário é de desolação. Os produtores de leite - a maioria pequena e
média - não têm condição de comprar ração para os animais, em razão do
preço alto. Nem mesmo o milho prometido pelo Governo Federal com preço
subsidiado (R$ 18,50) tem sido solução. Além da demora, o que tem
chegado de milho é insuficiente e não supre a demanda. Em recente
encontro com o governador Eduardo Campos, o Sinproleite propôs a
implantação - em 120 hectares de terra distribuídas em 27 propriedades -
de sementeiras de variedades de palma resistentes à cochonilha carmim.
Essas
variedades foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Pernambuco
(IPA) depois da chegada da praga ao Estado no ano 2000. De acordo com o
projeto, no primeiro ano, 60% do produzido seriam repassados para outros
associados fazerem suas sementeiras, com assistência técnica e maior
capacidade de produção.
No
segundo ano, o porcentual cai para 40%, no terceiro, para 20%, até
todos terem sua própria sementeira. A previsão é de que a meta seja
alcançada em quatro anos. As mudas já foram adquiridas pelo Governo.
Falta a aquisição de kits de irrigação. O secretário estadual de
Agricultura de Pernambuco, Ranilson Ramos, informou que os kits de
irrigação estão sendo orçados e devem integrar o orçamento de 2013.
Para
os pecuaristas da região, essa deveria ser uma prioridade imediata.
'Com a protelação, a previsão mais otimista é de que as sementeiras só
sejam plantadas no segundo semestre do próximo ano', observou. 'Até lá,
vamos continuar sem palma e sem garantir a produção de leite.'
Donos
de lacticínios em Venturosa e região têm comprado leite fora pra
atender aos clientes. Temendo o pior, o Estado aumentou no preço do
leite pago ao produtor. O litro do leite de vaca passou de R$ 0,76 para
R$ 1,00, e o litro do leite de cabra de R$ 1,30 para R$ 1,65. Além
disso, o ICMS da ração animal será desonerado e a Secretaria de
Agricultura vai se responsabilizar pelo transporte de bagaço de
cana-de-açúcar, que custa R$ 2 mil por caminhão.
Blog do Magno.
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