quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Seca atinge em cheio a bacia leiteira e reduz produção de queijo

Maior bacia leiteira do Estado, com uma produção diária de 1,4 milhão de litros, o Agreste Meridional é a região que mais sofre com o prolongamento da maior seca dos últimos 50 anos. Responsável por 85% da produção de leite no Estado de Pernambuco, Venturosa e mais seis municípios da região entraram em colapso total. As vacas que mais produzem leite, quando não abatidas pela seca, estão sendo exportadas para Alagoas.
'Sempre teve seca, mas não seca sem palma', reage o presidente do Sindicato dos Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, ao se referir à planta forrageira, imprescindível para quem cria gado em área de estiagem por sua capacidade de suportar clima seco.
A palma tem sido dizimada no Estado pela praga cochonilha carmim - um inseto que suga a seiva e a destrói em poucos meses. 'Só produz leite na região quem tem palma', resume ele. Sem o alimento para dar ao gado, os criadores de porte médio de Pernambuco têm abandonado suas propriedades para levar as reses para Alagoas. 
 Ali, em torno do município de Batalha, eles arrendam terra com água e plantação de palma, sem praga, na luta pela sobrevivência dos animais. O retorno só ocorrerá com a chegada das chuvas, cuja previsão é a partir de dezembro. Mas o serviço de meteorologia do Estado indica que a invernada só está garantida mesmo em março.
Outros criadores do Estado não tiveram a chance de engrossar o êxodo. Ou viram suas reses morrer ou venderam o rebanho por preços indignos. De tão magros, os animais não servem nem para o corte. De acordo com a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária (Adagro), a redução na produção do leite no agreste pernambucano, que engloba cerca de 10 municípios, é de 40%.
Foram produzidos 1,3 milhão de litros por dia neste ano contra 2,2 milhões litros por dia no ano passado. A relação entre produção de leite e emprego é de um emprego direto para cada 50 litros de leite produzidos, enfatiza o sindicalista. A queda da produção em 900 mil litros/dia significa 18 mil pessoas desempregadas.
 'A situação é muito triste no campo. É de doer ver o sofrimento dos animais e do homem', afirma Stênio Galvão, diretor-presidente da Bom Leite, uma das 20 empresas de laticínios do agreste, que também abriga 300 queijarias informais.
Localizada em São Bento do Una, com 190 funcionários, a Bom Leite coletou, ano passado, 110 mil litros de leite por dia dos produtores locais, que também exportavam para as capitais de Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte. Neste ano, o laticínio só conseguiu comprar 60 mil litros/dia.
Para compensar a falta do produto na região, a empresa está substituindo o leite in natura por leite em pó, adquirido no Sul e Sudeste, para fazer iogurtes, manteiga e queijos. 'Os empresários têm essa opção, podem comprar fora, mas o criador está sem saída', avaliou Galvão.
O cenário é de desolação. Os produtores de leite - a maioria pequena e média - não têm condição de comprar ração para os animais, em razão do preço alto. Nem mesmo o milho prometido pelo Governo Federal com preço subsidiado (R$ 18,50) tem sido solução. Além da demora, o que tem chegado de milho é insuficiente e não supre a demanda. Em recente encontro com o governador Eduardo Campos, o Sinproleite propôs a implantação - em 120 hectares de terra distribuídas em 27 propriedades - de sementeiras de variedades de palma resistentes à cochonilha carmim.
Essas variedades foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) depois da chegada da praga ao Estado no ano 2000. De acordo com o projeto, no primeiro ano, 60% do produzido seriam repassados para outros associados fazerem suas sementeiras, com assistência técnica e maior capacidade de produção. 
 No segundo ano, o porcentual cai para 40%, no terceiro, para 20%, até todos terem sua própria sementeira. A previsão é de que a meta seja alcançada em quatro anos. As mudas já foram adquiridas pelo Governo. Falta a aquisição de kits de irrigação. O secretário estadual de Agricultura de Pernambuco, Ranilson Ramos, informou que os kits de irrigação estão sendo orçados e devem integrar o orçamento de 2013.
Para os pecuaristas da região, essa deveria ser uma prioridade imediata. 'Com a protelação, a previsão mais otimista é de que as sementeiras só sejam plantadas no segundo semestre do próximo ano', observou. 'Até lá, vamos continuar sem palma e sem garantir a produção de leite.'
Donos de lacticínios em Venturosa e região têm comprado leite fora pra atender aos clientes. Temendo o pior, o Estado aumentou no preço do leite pago ao produtor. O litro do leite de vaca passou de R$ 0,76 para R$ 1,00, e o litro do leite de cabra de R$ 1,30 para R$ 1,65. Além disso, o ICMS da ração animal será desonerado e a Secretaria de Agricultura vai se responsabilizar pelo transporte de bagaço de cana-de-açúcar, que custa R$ 2 mil por caminhão. 
Blog do Magno.

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