quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Eleitor não pode ‘virar freguês’, alerta vereador


  O presidente da Câmara de Ribeirão Preto, Cícero Gomes da Silva (PMDB), também não escapa dos pedidos de eleitores. Ele, no entanto, diz que atende quando pode e afirma que dar dinheiro pode ser prejudicial para o próprio eleitor. “Não pode atender sempre porque a pessoa vai virar freguês. Isso faz mal para o sujeito”, diz Gomes. Entre os pedidos que já recebeu destacam-se vestido de noiva, botijão de gás, cimento e dinheiro para pagar alguma conta. “Ultimamente não tenho atendido ninguém e quando é para apadrinhar casamento, só vou se conheço a pessoa”.


   Outro que recebe dezenas de pedidos é Oliveira Júnior (PSC). O parlamentar, que é radialista e apresentador de TV, lembra de uma pessoa que o procurou em São Paulo para que ele pagasse uma dívida de R$ 370 mil. “Ela pediu para mim e para o Roberto Carlos [jogador de futebol]. Como se fosse fácil para a gente arrumar o dinheiro”, diz. Em Ribeirão, a cena tem se repetido no seu gabinete. “Uma pessoa devia quase R$ 100 mil em jogo e a mulher dele me pediu para ajudar. Ela estava desesperada e dizia que o marido corria risco de vida”. No entanto, Oliveira afirma que em nenhum desses casos pode ajudar as pessoas. Porém, no dia em que deu entrevista para A Cidade, ele entregou R$ 20 a um homem que alegava estar sem dinheiro para o gás. “Isso não é assistencialismo. Eu tenho um lado muito humano. Até creche eu cheguei a construir do meu bolso em Itu [onde foi vice-prefeito] sem pensar em ser político”.

   O vereador Marcelo Palinkas (DEM), jornalista de televisão que está em sua primeira legislatura, se recorda de uma mulher que bateu em seu gabinete pedindo o nome de algum de seus assessores emprestado para dar a uma financeira a fim de obter crédito. “Se viesse falar comigo, já diria logo que poderíamos ser presos, porque dar dinheiro é crime”. A tática, segundo Palinkas, é pedir o crachá do visitante, que traz a identificação do político a ser visitado. “Pelo crachá dá para ver se a pessoa não passou por outro gabinete e contou a mesma história”.

Eleitor é responsável por fenômeno histórico

    O eleitor brasileiro é um dos responsáveis pelo clientelismo, relação com o político que envolve benesses vindas da administração pública. A afirmação é do professor Marco Antonio Villa, da pós-graduação em Ciências Políticas da UFSCar.

“O eleitor considera que o político tem de patrocinar emprego, time de futebol e festa infantil.” A prática vem desde a República Velha, com coação de eleitores e compra de votos.

    O problema é maior ao analisar a relação do eleitor e do vereador com o Executivo. Villa cita que em todo o país há parlamentares que abrem ONGs (organizações não-governamentais) que funcionam como escritórios políticos por quatro anos. “Ele submete-se ao Executivo em troca de recursos da administração para manter sua atuação nesses anos.”
 Villa diz que o ideal seria que o sistema Judiciário investigasse essas relações, que normalmente violam princípios republicanos. “Isso apenas se resolveria com denúncia e ação rápida do Judiciário.”

ricardo canaveze

canaveze@jornalacidade.com.br

simei morais

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