quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Descaso no Sertão: Adutora abandonada na beira do rio

Encravada na beira do rio São Francisco, a 680 km do Recife, Santa Maria da Boa Vista virou um dos símbolos do descaso do poder público. Ali, a Adutora do Rio Garças, inaugurada na gestão do ex-governador Roberto Magalhães (DEM) em 1985, está abandonada desde 2003. Durante mais de 10 anos, suas águas irrigaram 1,1 mil hectares de cebola, tomate, goiaba e melão.
Levou renda e gerou empregos para duas mil pessoas, que irrigavam suas terras através de quatro barragens – Lagoa da Pedra, Primavera, Lagoa e Umburana, de onde jorrava a água da prosperidade. Hoje, abandonadas, essas barragens estão assoreadas, em processo de desertificação.
Roberto Magalhães lançou a semente do sistema adutor do Garças imaginando que seus sucessores iriam dar continuidade. Seu Governo chegou ao fim e os demais ignoraram a iniciativa, transformando o sonho de milhares de sertanejos num tremendo pesadelo.  Restava apenas a construção do canal para levar água aos perímetros irrigados.
Mas nem Joaquim Francisco, eleito depois; nem Jarbas, em seguida, nem tampouco Miguel Arraes, já em 94, tiveram sensibilidade para concluir o projeto. Resultado: com a privatização da Celpe na gestão de Jarbas, o sistema Garças entrou em falência. 
Lá atrás, para atrair produtores e indústrias, Roberto Magalhães deu isenção das taxas de energia, o que acabou virando letra morta com a compra da Celpe por um grupo estrangeiro. Obrigados a pagar energia, os produtores não conseguiram continuar na atividade. A conta da luz gerou uma bola de neve, paralisando as atividades.
Ignorada e abandonada, a Adutora do Garças virou alvo de depredação. Seus equipamentos, incluindo o sistema elétrico, bombas, motores e até os medidores de alta tensão foram sendo roubados ao longo do tempo. Do antigo sistema resta agora apenas um esqueleto branco, no meio da caatinga. 
Hoje, para retomar o projeto Garças, que tiraria mais de quatro mil famílias do sequeiro para lotes em áreas irrigadas, seria necessário um investimento da ordem de R$ 15 milhões. Secretário de Agricultura do Governo Eduardo, o ex-deputado Ranilson Ramos, já votado na região, conhece a realidade como ninguém, mas nunca assumiu o compromisso de retomar a adutora.
Quando esteve em produção, durante 10 anos, o sistema Garças não garantiu apenas uma vida mais digna para duas mil famílias de pequenos produtores rurais. Como Santa Maria da Boa Vista está a apenas 110 km de Petrolina, muitos empresários abriram negócios ao longo do perímetro irrigado.
Uma das empresas que logo se instalou por lá, para produção de coco, ocupando uma grande extensão de terras, pertenceu ao ex-secretário da Fazenda do Estado, Wilson Campos Júnior, já falecido, irmão do ex-senador Carlos Wilson, também falecido. “Wilson vinha muito por aqui e passou a ser uma das boas referências do projeto Garças”, lembra Jonas Lopes, ex-secretário de Agricultura do município.
Lopes, aliás, é também parte deste infortúnio. Na época, explorou goiaba numa gleba pertencente ao sistema Garças. “Cheguei a colher 10 mil quilos de caixas de goiaba por safra”, diz Lopes. Hoje, suas terras estão abandonadas, como abandonadas estão todas as propriedades que se instalaram ao longo perímetro.  A área da barragem Lagoa da Pedra, onde Lopes produzia goiaba, hoje virou um assentamento com 45 famílias bancado pelo Governo Federal.
Só que não produzem nada. Os assentados vivem dos programas sociais do Governo. Até as cisternas chegaram lá através do Ministério da Integração Nacional. “Sem água, a gente vai produzir o que aqui? Tem que esperar chover”, relata “seu” João Francisco,  pai de oito filhos, que viveu o auge do projeto.
Em Santa Maria da Boa Vista, a população cansou das promessas de políticos, de que a adutora será recuperada. “Na campanha, todo mundo chegava por aqui dizendo que Garças seria recuperada”, lembra Tadeu de Ernesto, agricultor na região, para quem o projeto morreu definitivamente.
Jonas Lopes calcula que, na primeira etapa, para recuperar o sistema Garças, o Governo gastaria R$ 8 milhões, abrindo áreas irrigáveis em 1,1 mil hectares. Na segunda etapa, com mais R$ 7 milhões, esta área seria duplicada. “Somos, hoje, o maior produtor de banana da região e também de goiaba”, lembra.
Blog do Magno.

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