Encravada
na beira do rio São Francisco, a 680 km do Recife, Santa Maria da Boa
Vista virou um dos símbolos do descaso do poder público. Ali, a Adutora
do Rio Garças, inaugurada na gestão do ex-governador Roberto Magalhães
(DEM) em 1985, está abandonada desde 2003. Durante mais de 10 anos, suas
águas irrigaram 1,1 mil hectares de cebola, tomate, goiaba e melão.
Levou
renda e gerou empregos para duas mil pessoas, que irrigavam suas terras
através de quatro barragens – Lagoa da Pedra, Primavera, Lagoa e
Umburana, de onde jorrava a água da prosperidade. Hoje, abandonadas,
essas barragens estão assoreadas, em processo de desertificação.
Roberto
Magalhães lançou a semente do sistema adutor do Garças imaginando que
seus sucessores iriam dar continuidade. Seu Governo chegou ao fim e os
demais ignoraram a iniciativa, transformando o sonho de milhares de
sertanejos num tremendo pesadelo. Restava apenas a construção do canal para levar água aos perímetros irrigados.
Mas
nem Joaquim Francisco, eleito depois; nem Jarbas, em seguida, nem
tampouco Miguel Arraes, já em 94, tiveram sensibilidade para concluir o
projeto. Resultado: com a privatização da Celpe na gestão de Jarbas, o
sistema Garças entrou em falência.
Lá
atrás, para atrair produtores e indústrias, Roberto Magalhães deu
isenção das taxas de energia, o que acabou virando letra morta com a
compra da Celpe por um grupo estrangeiro. Obrigados a pagar energia, os
produtores não conseguiram continuar na atividade. A conta da luz gerou
uma bola de neve, paralisando as atividades.
Ignorada
e abandonada, a Adutora do Garças virou alvo de depredação. Seus
equipamentos, incluindo o sistema elétrico, bombas, motores e até os
medidores de alta tensão foram sendo roubados ao longo do tempo. Do
antigo sistema resta agora apenas um esqueleto branco, no meio da
caatinga.
Hoje,
para retomar o projeto Garças, que tiraria mais de quatro mil famílias
do sequeiro para lotes em áreas irrigadas, seria necessário um
investimento da ordem de R$ 15 milhões. Secretário de Agricultura do
Governo Eduardo, o ex-deputado Ranilson Ramos, já votado na região,
conhece a realidade como ninguém, mas nunca assumiu o compromisso de
retomar a adutora.
Quando
esteve em produção, durante 10 anos, o sistema Garças não garantiu
apenas uma vida mais digna para duas mil famílias de pequenos produtores
rurais. Como Santa Maria da Boa Vista está a apenas 110 km de
Petrolina, muitos empresários abriram negócios ao longo do perímetro
irrigado.
Uma
das empresas que logo se instalou por lá, para produção de coco,
ocupando uma grande extensão de terras, pertenceu ao ex-secretário da
Fazenda do Estado, Wilson Campos Júnior, já falecido, irmão do
ex-senador Carlos Wilson, também falecido. “Wilson vinha muito por aqui e
passou a ser uma das boas referências do projeto Garças”, lembra Jonas
Lopes, ex-secretário de Agricultura do município.
Lopes,
aliás, é também parte deste infortúnio. Na época, explorou goiaba numa
gleba pertencente ao sistema Garças. “Cheguei a colher 10 mil quilos de
caixas de goiaba por safra”, diz Lopes. Hoje, suas terras estão
abandonadas, como abandonadas estão todas as propriedades que se
instalaram ao longo perímetro. A
área da barragem Lagoa da Pedra, onde Lopes produzia goiaba, hoje virou
um assentamento com 45 famílias bancado pelo Governo Federal.
Só
que não produzem nada. Os assentados vivem dos programas sociais do
Governo. Até as cisternas chegaram lá através do Ministério da
Integração Nacional. “Sem água, a gente vai produzir o que aqui? Tem que
esperar chover”, relata “seu” João Francisco, pai de oito filhos, que viveu o auge do projeto.
Em
Santa Maria da Boa Vista, a população cansou das promessas de
políticos, de que a adutora será recuperada. “Na campanha, todo mundo
chegava por aqui dizendo que Garças seria recuperada”, lembra Tadeu de
Ernesto, agricultor na região, para quem o projeto morreu
definitivamente.
Jonas
Lopes calcula que, na primeira etapa, para recuperar o sistema Garças, o
Governo gastaria R$ 8 milhões, abrindo áreas irrigáveis em 1,1 mil
hectares. Na segunda etapa, com mais R$ 7 milhões, esta área seria
duplicada. “Somos, hoje, o maior produtor de banana da região e também
de goiaba”, lembra.
Blog do Magno.
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